terça-feira, 30 de setembro de 2014

Eliú justifica a Deus e diz a Jó que o seu pecado estorva a bênção dele

O Livro De
36.1-33
Prosseguiu ainda Eliú, e disse:
Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda há razões a favor de Deus.
De longe trarei o meu conhecimento; e ao meu Criador atribuirei a justiça.
Porque na verdade, as minhas palavras não serão falsas; contigo está um que tem perfeito conhecimento.
Eis que Deus é mui grande, contudo a ninguém despreza; grande é em força e sabedoria.
Ele não preserva a vida do ímpio, e faz justiça aos aflitos.
Do justo não tira os seus olhos; antes estão com os reis no trono; ali os assenta para sempre, e assim são exaltados.
E se estão presos em grilhões, amarrados com cordas de aflição,
Então lhes faz saber a obra deles, e as suas transgressões, porquanto prevaleceram nelas.
Abre-lhes também os seus ouvidos, para sua disciplina, e ordena-lhes que se convertam da maldade.
Se o ouvirem, e o servirem, acabarão seus dias em bem, e os seus anos em delícias.
Porém se não o ouvirem, à espada serão passados, e expirarão sem conhecimento.
E os hipócritas de coração amontoam para si a ira; e amarrando-os ele, não clamam por socorro.
A sua alma morre na mocidade, e a sua vida perece entre os impuros.
Ao aflito livra da sua aflição, e na opressão se revela aos seus ouvidos.
Assim também te desviará da boca da angústia para um lugar espaçoso, em que não há aperto, e as iguarias da tua mesa serão cheias de gordura.
Mas tu estás cheio do juízo do ímpio; o juízo e a justiça te sustentam.
Porquanto há furor, guarda-te de que não sejas atingido pelo castigo violento, pois nem com resgate algum te livrarias dele.
Estimaria ele tanto tuas riquezas? Não, nem ouro, nem todas as forças do poder.
Não suspires pela noite, em que os povos sejam tomados do seu lugar.
Guarda-te, e não declines para a iniquidade; porquanto isso escolheste antes que a aflição.
Eis que Deus é excelso em seu poder; quem ensina como ele?
Quem lhe prescreveu o seu caminho? Ou, quem lhe dirá: Tu cometeste maldade?
Lembra-te de engrandecer a sua obra, que os homens contemplam.
Todos os homens a vêem, e o homem a enxerga de longe.
Eis que Deus é grande, e nós não o compreendemos, e o número dos seus anos não se pode esquadrinhar.
Porque faz miúdas as gotas das águas que, do seu vapor, derramam a chuva,
A qual as nuvens destilam e gotejam sobre o homem abundantemente.
Porventura pode alguém entender as extensões das nuvens, e os estalos da sua tenda?
Eis que estende sobre elas a sua luz, e encobre as profundezas do mar.
Porque por estas coisas julga os povos e lhes dá mantimento em abundância.
Com as nuvens encobre a luz, e ordena não brilhar, interpondo a nuvem.
O que nos dá a entender o seu pensamento, como também ao gado, acerca do temporal que sobe.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O bem e o mal não podem afetar a Deus, mas algumas vezes, por falta de fé dos aflitos, não os ouve

O Livro De
35.1-16
Respondeu mais Eliú, dizendo:
Tens por direito dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus?
Porque disseste: De que me serviria? Que proveito tiraria mais do que do meu pecado?
Eu te darei resposta, a ti e aos teus amigos contigo.
Atenta para os céus, e vê; e contempla as mais altas nuvens, que são mais altas do que tu.
Se pecares, que efetuarás contra ele? Se as tuas transgressões se multiplicarem, que lhe farás?
Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá ele da tua mão?
A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justiça aproveitaria ao filho do homem.
Por causa das muitas opressões os homens clamam por causa do braço dos grandes.
Porém ninguém diz: Onde está Deus que me criou, que dá salmos durante a noite;
Que nos ensina mais do que aos animais da terra e nos faz mais sábios do que as aves dos céus?
Clamam, porém ele não responde, por causa da arrogância dos maus.
Certo é que Deus não ouvirá a vaidade, nem atentará para ela o Todo-Poderoso.
E quanto ao que disseste, que o não verás, juízo há perante ele; por isso espera nele.
Mas agora, porque a sua ira ainda não se exerce, nem grandemente considera a arrogância,
Logo Jó em vão abre a sua boca, e sem ciência multiplica palavras.

domingo, 28 de setembro de 2014

Eliú acusa Jó de falar injustamente de Deus

O Livro De
34.1-37
Respondeu mais Eliú, dizendo:
Ouvi, vós, sábios, as minhas razões; e vós, entendidos, inclinai os ouvidos para mim.
Porque o ouvido prova as palavras, como o paladar experimenta a comida.
O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom.
Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito.
Apesar do meu direito sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.
Que homem há como Jó, que bebe a zombaria como água?
E caminha em companhia dos que praticam a iniquidade, e anda com homens ímpios?
Porque disse: De nada aproveita ao homem o comprazer-se em Deus.
Portanto vós, homens de entendimento, escutai-me: Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a perversidade!
Porque, segundo a obra do homem, ele lhe paga; e faz a cada um segundo o seu caminho.
Também, na verdade, Deus não procede impiamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo.
Quem lhe entregou o governo da terra? E quem fez todo o mundo?
Se ele pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego,
Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó.
Se, pois, há em ti entendimento, ouve isto; inclina os ouvidos ao som da minha palavra.
Porventura o que odiasse o direito se firmaria? E tu condenarias aquele que é justo e poderoso?
Ou dir-se-á a um rei: Oh! Vil? Ou aos príncipes: Oh! ímpios?
Quanto menos àquele, que não faz acepção das pessoas de príncipes, nem estima o rico mais do que o pobre; porque todos são obras de suas mãos.
Eles num momento morrem; e até à meia-noite os povos são perturbados, e passam, e os poderosos serão tomados não por mão humana.
Porque os seus olhos estão sobre os caminhos de cada um, e ele vê todos os seus passos.
Não há trevas nem sombra de morte, onde se escondam os que praticam a iniquidade.
Porque Deus não sobrecarrega o homem mais do que é justo, para o fazer ir a juízo diante dele.
Quebranta aos fortes, sem que se possa inquirir, e põe outros em seu lugar.
Ele conhece, pois, as suas obras; de noite os transtorna, e ficam moídos.
Ele os bate como ímpios que são, à vista dos espectadores;
Porquanto se desviaram dele, e não compreenderam nenhum de seus caminhos,
De sorte que o clamor do pobre subisse até ele, e que ouvisse o clamor dos aflitos.
Se ele aquietar, quem então inquietará? Se encobrir o rosto, quem então o poderá contemplar? Seja isto para com um povo, seja para com um homem só,
Para que o homem hipócrita nunca mais reine, e não haja laços no povo.
Na verdade, quem a Deus disse: Suportei castigo, não ofenderei mais.
O que não vejo, ensina-me tu; se fiz alguma maldade, nunca mais a hei de fazer?
Virá de ti como há de ser a recompensa, para que tu a rejeites? Faze tu, pois, e não eu, a escolha; fala logo o que sabes.
Os homens de entendimento dirão comigo, e o homem sábio que me ouvir:
Jó falou sem conhecimento; e às suas palavras falta prudência.
Pai meu! Provado seja Jó até ao fim, pelas suas respostas próprias de homens malignos.
Porque ao seu pecado acrescenta a transgressão; entre nós bate palmas, e multiplica contra Deus as suas palavras.

sábado, 27 de setembro de 2014

Eliú acusa Jó de se opor a Deus e de entender mal os seus caminhos

O Livro De
33.1-33
Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões, e dá ouvidos a todas as minhas palavras.
Eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu paladar.
As minhas razões provam a sinceridade do meu coração, e os meus lábios proferem o puro saber.
O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida.
Se podes, responde-me, põe em ordem as tuas razões diante de mim, e apresenta-te.
Eis que vim de Deus, como tu; do barro também eu fui formado.
Eis que não te perturbará o meu terror, nem será pesada sobre ti a minha mão.
Na verdade tu falaste aos meus ouvidos; e eu ouvi a voz das tuas palavras. Dizias:
Limpo estou, sem transgressão; puro sou, e não tenho iniquidade.
Eis que procura pretexto contra mim, e me considera como seu inimigo.
Põe no tronco os meus pés, e observa todas as minhas veredas.
Eis que nisso não tens razão; eu te respondo; porque maior é Deus do que o homem.
Por que razão contendes com ele, sendo que não responde acerca de todos os seus feitos?
Antes Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso.
Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama.
Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução,
Para apartar o homem daquilo que faz, e esconder do homem a soberba.
Para desviar a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela espada.
Também na sua cama é castigado com dores; e com incessante contenda nos seus ossos;
De modo que a sua vida abomina até o pão, e a sua alma a comida apetecível.
Desaparece a sua carne a olhos vistos, e os seus ossos, que não se viam, agora aparecem.
E a sua alma se vai chegando à cova, e a sua vida aos que trazem a morte.
Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares, para declarar ao homem a sua retidão,
Então terá misericórdia dele, e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à cova; já achei resgate.
Sua carne se reverdecerá mais do que era na mocidade, e tornará aos dias da sua juventude.
Deveras orará a Deus, o qual se agradará dele, e verá a sua face com júbilo, e restituirá ao homem a sua justiça.
Olhará para os homens, e dirá: Pequei, e perverti o direito, o que de nada me aproveitou.
Porém Deus livrou a minha alma de ir para a cova, e a minha vida verá a luz.
Eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem,
Para desviar a sua alma da perdição, e o iluminar com a luz dos viventes.
Escuta, pois, ó Jó, ouve-me; cala-te, e eu falarei.
Se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo justificar-te.
Se não, escuta-me tu; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Eliú repreende Jó e os seus três amigos

O Livro De
32.1-22
Então aqueles três homens cessaram de responder a Jó; porque era justo aos seus próprios olhos.
E acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus.
Também a sua ira se acendeu contra os seus três amigos, porque, não achando que responder, todavia condenavam a Jó.
Eliú, porém, esperou para falar a Jó, porquanto tinham mais idade do que ele.
Vendo, pois, Eliú que já não havia resposta na boca daqueles três homens, a sua ira se acendeu.
E respondeu Eliú, filho de Baraquel, o buzita, dizendo: Eu sou de menos idade, e vós sois idosos; receei-me e temi de vos declarar a minha opinião.
Dizia eu: Falem os dias, e a multidão dos anos ensine a sabedoria.
Na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo Poderoso o faz entendido.
Os grandes não são os sábios, nem os velhos entendem o que é direito.
Assim digo: Dai-me ouvidos, e também eu declararei a minha opinião.
Eis que aguardei as vossas palavras, e dei ouvidos às vossas considerações, até que buscásseis razões.
Atentando, pois, para vós, eis que nenhum de vós há que possa convencer a Jó, nem que responda às suas razões;
Para que não digais: Achamos a sabedoria; Deus o derrubou, e não homem algum.
Ora ele não dirigiu contra mim palavra alguma, nem lhe responderei com as vossas palavras.
Estão pasmados, não respondem mais, faltam-lhes as palavras.
Esperei, pois, mas não falam; porque já pararam, e não respondem mais.
Também eu responderei pela minha parte; também eu declararei a minha opinião.
Porque estou cheio de palavras; o meu espírito me constrange.
Eis que dentro de mim sou como o mosto, sem respiradouro, prestes a arrebentar, como odres novos.
Falarei, para que ache alívio; abrirei os meus lábios, e responderei.
Que não faça eu acepção de pessoas, nem use de palavras lisonjeiras com o homem!
Porque não sei usar de lisonjas; em breve me levaria o meu Criador.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Jó declara sua integridade nos seus deveres

O Livro De
31.1-40
Fiz aliança com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem?
Que porção teria eu do Deus lá de cima, ou que herança do Todo Poderoso desde as alturas?
Porventura não é a perdição para o perverso, o desastre para os que praticam iniquidade?
Ou não vê ele os meus caminhos, e não conta todos os meus passos?
Se andei com falsidade, e se o meu pé se apressou para o engano
(Pese-me em balanças fiéis, e saberá Deus a minha sinceridade),
Se os meus passos se desviaram do caminho, e se o meu coração segue os meus olhos, e se às minhas mãos se apegou qualquer coisa,
Então semeie eu e outro coma, e seja a minha descendência arrancada até à raiz.
Se o meu coração se deixou seduzir por uma mulher, ou se eu armei traições à porta do meu próximo,
Então moa minha mulher para outro, e outros se encurvem sobre ela,
Porque é uma infâmia, e é delito pertencente aos juízes.
Porque é fogo que consome até à perdição, e desarraigaria toda a minha renda.
Se desprezei o direito do meu servo ou da minha serva, quando eles contendiam comigo;
Então que faria eu quando Deus se levantasse? E, inquirindo a causa, que lhe responderia?
Aquele que me formou no ventre não o fez também a ele? Ou não nos formou do mesmo modo na madre?
Se retive o que os pobres desejavam, ou fiz desfalecer os olhos da viúva,
Ou se, sozinho comi o meu bocado, e o órfão não comeu dele
(Porque desde a minha mocidade cresceu comigo como com seu pai, e fui o guia da viúva desde o ventre de minha mãe),
Se alguém vi perecer por falta de roupa, e ao necessitado por não ter coberta,
Se os seus lombos não me abençoaram, se ele não se aquentava com as peles dos meus cordeiros,
Se eu levantei a minha mão contra o órfão, porquanto na porta via a minha ajuda,
Então caia do ombro a minha espádua, e separe-se o meu braço do osso.
Porque o castigo de Deus era para mim um assombro, e eu não podia suportar a sua grandeza.
Se no ouro pus a minha esperança, ou disse ao ouro fino: Tu és a minha confiança;
Se me alegrei de que era muita a minha riqueza, e de que a minha mão tinha alcançado muito;
Se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, caminhando gloriosa,
E o meu coração se deixou enganar em oculto, e a minha boca beijou a minha mão,
Também isto seria delito à punição de juízes; pois assim negaria a Deus que está lá em cima.
Se me alegrei da desgraça do que me tem ódio, e se exultei quando o mal o atingiu
(Também não deixei pecar a minha boca, desejando a sua morte com maldição);
Se a gente da minha tenda não disse: Ah! quem nos dará da sua carne? Nunca nos fartaríamos dela.
O estrangeiro não passava a noite na rua; as minhas portas abria ao viandante.
Se, como Adão, encobri as minhas transgressões, ocultando o meu delito no meu seio;
Porque eu temia a grande multidão, e o desprezo das famílias me apavorava, e eu me calei, e não saí da porta;
Ah! quem me dera um que me ouvisse! Eis que o meu desejo é que o Todo-Poderoso me responda, e que o meu adversário escreva um livro.
Por certo que o levaria sobre o meu ombro, sobre mim o ataria por coroa.
O número dos meus passos lhe mostraria; como príncipe me chegaria a ele.
Se a minha terra clamar contra mim, e se os seus sulcos juntamente chorarem,
Se comi os seus frutos sem dinheiro, e sufoquei a alma dos seus donos,
Por trigo me produza cardos, e por cevada joio. Acabaram-se as palavras de Jó.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Jó descreve o estado miserável em que caiu

O Livro De
30.1-31
Agora, porém, se riem de mim os de menos idade do que eu, cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho.
De que também me serviria a força das mãos daqueles, cujo vigor se tinha esgotado?
De míngua e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos.
Apanhavam malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram as raízes dos zimbros.
Do meio dos homens eram expulsos, e gritavam contra eles, como contra o ladrão;
Para habitarem nos barrancos dos vales, e nas cavernas da terra e das rochas.
Bramavam entre os arbustos, e ajuntavam-se debaixo das urtigas.
Eram filhos de doidos, e filhos de gente sem nome, e da terra foram expulsos.
Agora, porém, sou a sua canção, e lhes sirvo de provérbio.
Abominam-me, e fogem para longe de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir.
Porque Deus desatou a sua corda, e me oprimiu, por isso sacudiram de si o freio perante o meu rosto.
À direita se levantam os moços; empurram os meus pés, e preparam contra mim os seus caminhos de destruição.
Desbaratam-me o caminho; promovem a minha miséria; contra eles não há ajudador.
Vêm contra mim como por uma grande brecha, e revolvem-se entre a assolação.
Sobrevieram-me pavores; como vento perseguem a minha honra, e como nuvem passou a minha felicidade.
E agora derrama-se em mim a minha alma; os dias da aflição se apoderaram de mim.
De noite se me traspassam os meus ossos, e os meus nervos não descansam.
Pela grandeza do meu mal está desfigurada a minha veste, que, como a gola da minha túnica, me cinge.
Lançou-me na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza.
Clamo a ti, porém, tu não me respondes; estou em pé, porém, para mim não atentas.
Tornaste-te cruel contra mim; com a força da tua mão resistes violentamente.
Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e derretes-me o ser.
Porque eu sei que me levarás à morte e à casa do ajuntamento determinada a todos os viventes.
Porém não estenderá a mão para o túmulo, ainda que eles clamem na sua destruição.
Porventura não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado?
Todavia aguardando eu o bem, então me veio o mal, esperando eu a luz, veio a escuridão.
As minhas entranhas fervem e não estão quietas; os dias da aflição me surpreendem.
Denegrido ando, porém não do sol; levantando-me na congregação, clamo por socorro.
Irmão me fiz dos chacais, e companheiro dos avestruzes.
Enegreceu-se a minha pele sobre mim, e os meus ossos estão queimados do calor.
A minha harpa se tornou em luto, e o meu órgão em voz dos que choram.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Lamentação de Jó lembrando-se do seu primeiro estado

O Livro De
29.1-25
E prosseguiu Jó no seu discurso, dizendo:
Ah! quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava!
Quando fazia resplandecer a sua lâmpada sobre a minha cabeça e quando eu pela sua luz caminhava pelas trevas.
Como fui nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda;
Quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus filhos em redor de mim.
Quando lavava os meus passos na manteiga, e da rocha me corriam ribeiros de azeite;
Quando eu saía para a porta da cidade, e na rua fazia preparar a minha cadeira,
Os moços me viam, e se escondiam, e até os idosos se levantavam e se punham em pé;
Os príncipes continham as suas palavras, e punham a mão sobre a sua boca;
A voz dos nobres se calava, e a sua língua apegava-se ao seu paladar.
Ouvindo-me algum ouvido, me tinha por bem-aventurado; vendo-me algum olho, dava testemunho de mim;
Porque eu livrava o miserável, que clamava, como também o órfão que não tinha quem o socorresse.
A bênção do que ia perecendo vinha sobre mim, e eu fazia que rejubilasse o coração da viúva.
Vestia-me da justiça, e ela me servia de vestimenta; como manto e diadema era a minha justiça.
Eu me fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo.
Dos necessitados era pai, e as causas de que eu não tinha conhecimento inquiria com diligência.
E quebrava os queixos do perverso, e dos seus dentes tirava a presa.
E dizia: No meu ninho expirarei, e multiplicarei os meus dias como a areia.
A minha raiz se estendia junto às águas, e o orvalho permanecia sobre os meus ramos;
A minha honra se renovava em mim, e o meu arco se reforçava na minha mão.
Ouviam-me e esperavam, e em silêncio atendiam ao meu conselho.
Havendo eu falado, não replicavam, e minhas razões destilavam sobre eles;
Porque me esperavam, como à chuva; e abriam a sua boca, como à chuva tardia.
Se eu ria para eles, não o criam, e a luz do meu rosto não faziam abater;
Eu escolhia o seu caminho, assentava-me como chefe, e habitava como rei entre as suas tropas; como aquele que consola os que pranteiam.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O homem tem ciência das coisas da terra, mas a sabedoria é dom de Deus

O Livro De
28.1-28
Na verdade, há veios de onde se extrai a prata, e lugar onde se refina o ouro.
O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o cobre.
Ele põe fim às trevas, e toda a extremidade ele esquadrinha, a pedra da escuridão e a da sombra da morte.
Abre um poço de mina longe dos homens, em lugares esquecidos do pé; ficando pendentes longe dos homens, oscilam de um lado para outro.
Da terra procede o pão, mas por baixo é revolvida como por fogo.
As suas pedras são o lugar da safira, e tem pó de ouro.
Essa vereda a ave de rapina a ignora, e não a viram os olhos da gralha.
Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela.
Ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes.
Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho vê tudo o que há de precioso.
Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira à luz o que estava escondido.
Porém onde se achará a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?
O homem não conhece o seu valor, e nem ela se acha na terra dos viventes.
O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo.
Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em troca dela.
Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira.
Com ela não se pode comparar o ouro nem o cristal; nem se trocará por jóia de ouro fino.
Não se fará menção de coral nem de pérolas; porque o valor da sabedoria é melhor que o dos rubis.
Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode avaliar por ouro puro.
Donde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?
Pois está encoberta aos olhos de todo o vivente, e oculta às aves do céu.
A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama.
Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar.
Porque ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus.
Quando deu peso ao vento, e tomou a medida das águas;
Quando prescreveu leis para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões;
Então a viu e relatou; estabeleceu-a, e também a esquadrinhou.
E disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.